14/07/2025 às 08:47h
Eric, de 2 anos, cresce em uma cidade sem creche, Santa Rita de Ibitipoca, na Zona da Mata mineira, e, por oito horas, nos dias úteis, fica sob os cuidados de uma parente enquanto a mãe trabalha. Apesar de a Constituição Federal Brasileira garantir o acesso à creche como um dever do Estado, em Minas Gerais, 55 municípios não contam com creches públicas para crianças de 0 a 3 anos – sendo que, em 14 deles, há apenas oferta de vagas na rede privada –, conforme dados do último Censo Escolar da Educação Básica, de 2024, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Os impactos dessa realidade na vida dos mineiros são o assunto da série de reportagens “Acesso Negado”, que também vai discutir, a partir de hoje, os possíveis caminhos a serem seguidos para garantia plena de direitos das crianças no estado.
Com a ausência da creche, que poderia proporcionar a Eric o desenvolvimento da linguagem, do raciocínio lógico e da socialização, entre tantos outros benefícios, a preocupação com o atraso escolar do pequeno ibitipoquense parece pesar apenas sobre os ombros da mãe, Anne de Freitas Fonseca, de 32 anos. “Se tivesse a escolinha, seria muito melhor para ele. Meu filho estaria aprendendo, ia facilitar a vida”, desabafa.
Ela avalia ainda que o problema pode ser maior do que a pesquisa do Inep conseguiu mensurar. Segundo a especialista, além das crianças que vivem em cidades sem creche, a demanda por vagas também afeta famílias que moram em áreas periféricas e enfrentam dificuldades para acessar o benefício. “É bem possível que o número de crianças desassistidas esteja subnotificado. Minas Gerais é um estado com mais de 800 municípios e, além de menos de 40% das crianças terem acesso às creches, é preciso conhecer, de fato, a real dimensão da demanda”, analisa. “As creches são uma estrutura do Estado. Nós pagamos impostos para que elas funcionem”, acrescenta.
A Associação Mineira de Municípios (AMM) reconhece o déficit na cobertura em Minas e defende a criação de um sistema para acompanhar a demanda por creches. “É preciso que os municípios montem um tipo de controle, ou que isso seja feito pelo governo estadual ou federal, por meio da sistematização desses dados”, afirma o coordenador técnico da AMM, Guilherme Levy. “Conhecer a demanda é o primeiro passo para planejar”, endossa.
Com informações O TempoFoto: Espacial FM